quarta-feira, 25 de agosto de 2010

quase .



Um pouco mais de sol - eu era brasa,Um pouco mais de azul - eu era além.Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaídoNum grande mar enganador de espuma;E o grande sonho despertado em bruma,O grande sonho - ó dor! - quase vivido...Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...Mas na minh'alma tudo se derrama...Entanto nada foi só ilusão!De tudo houve um começo... e tudo errou...- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...Momentos de alma que, desbaratei...Templos aonde nunca pus um altar...Rios que perdi sem os levar ao mar...Ânsias que foram mas que não fixei...Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;E mãos de herói, sem fé, acobardadas,Puseram grades sobre os precipícios...Num ímpeto difuso de quebranto,Tudo encetei e nada possuí...Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...Um pouco mais de sol - e fora brasa,Um pouco mais de azul - e fora além.Para atingir faltou-me um golpe de asa...Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário de Sá Carneiro

1 comentário:

  1. Como eu não possuo

    Como eu desejo a que ali vai na rua,
    tão ágil, tão agreste, tão de amor...
    Como eu quisera emaranhá-la nua,
    bebê-la em espasmos de harmonia e cor!...

    Desejo errado... Se eu a tivera um dia,
    toda sem véus, a carne estilizada
    sob o meu corpo arfando transbordada,
    nem mesmo assim? Ó ânsia!? Eu a teria...

    Eu vibraria só agonizante
    sobre o seu corpo de êxtases dourados,
    se fosse aqueles seios transtornados,
    se fosse aquele sexo aglutinante...

    De embate ao meu amor todo me roo,
    e vejo-me em destroço até vencendo:
    é que eu teria só, sentindo e sendo
    aquilo que estrebucho e não possuo.


    De: Mário Sá Carneiro

    ResponderEliminar